A violência conjugal acontece segundo um padrão de comportamentos de violência crescente, num ciclo repetitivo que varia entre a agressão e as manifestações de carinho e compensação dos sofrimentos causados. Identificam-se as seguintes fases:


Na fase de acumulação de tensão, existe uma sucessão de pequenos episódios (mesmo que não relacionados com a vida em família ou com a pessoa que será a vítima) que provocam um aumento constante de ansiedade, e de hostilidade (raiva e zanga).

O (a) agressor (a) sob qualquer desculpa direcciona todas as suas tensões sobre a vítima, por exemplo, insulta a vítima por não ter cozinhado, por ter chegado tarde a casa, por não ter dito “olá”, … etc.

 

Na fase de ocorrência da agressão, a tensão acumulada na fase anterior, dá lugar a uma explosão descontrolada de violência, que pode assumir uma ou diversas formas de agressão.

O (a) agressor (a) descarrega a tensão sobre a vítima, sob a forma de maus-tratos físicos, psicológicos ou sexuais, independentemente da atitude da vítima.

 

Na fase de lua-de-mel, depois da tensão ter sido “descarregada” sobre a vítima, o(a) agressor(a) manifesta arrependimento e assume o compromisso de mudar o comportamento violento. A fase de lua-de-mel permite à vítima desculpar e minimizar as agressões sofridas e reacreditar numa relação de intimidade à medida do seu sonho, e multiplicar-se em esforços para corresponder às exigências, desejos e imposições do(a) parceiro(a).

As manifestações do arrependimento do(a) agressor(a) traduzem-se em tratamento delicado e manifestações amorosas à vítima, incutindo-lhe a crença e a esperança de um recomeço da relação segundo o que ela (vítima) tinha idealizado. Pode, também, desculpabilizar o seu comportamento violento, (desculpar-se com justificações) fazendo crer que o dia correu mal, ou estava embriagado, ou que ela (vítima) provocou, ou… alguma desculpa que lhe retire a responsabilidade e gravidade dos seus actos.

 

Contudo, este ciclo repete-se de forma continuada, verificando-se a redução gradual da primeira fase (a “tensão” acontece “por tudo e por nada”), e a intensificação e prolongamento do período em que ocorrem as agressões, ao mesmo tempo que vai desaparecendo progressivamente a fase de tentativa de compensação amorosa da violência infligida (lua-de-mel). A repetição deste ciclo transforma-se usualmente num outro, composto por duas únicas fases, a fase da acumulação de tensão e a fase da ocorrência de agressão:


É então que mais facilmente a vítima deixa de acreditar na possibilidade de mudança e mais conscientemente assume a sua condição de vítima, passo essencial e necessário para assumir uma mudança de atitude e usar os recursos pessoais (capacidades, condições,) ou comunitários (família, amigos, serviços) até aí desvalorizados.

 

Contudo, pode também acontecer que os danos pssam ser tão profundos que retirem toda a capacidade de reacção à vítima, relegando-a para um estado de desespero e desânimo aprendido, onde o bloqueio das suas capacidades individuais reforça e quase legitima as justificações apresentadas pelo agressor (acredita que não tem capacidade para mudar e que ninguém se disporia a ajudar.

 

É nesta situação que é fundamental o apoio e iniciativa de todos os que possam aperceber-se do problema, dando-lhe incentivo, confiança e condições para que com ela (vítima) se encontrem reais soluções.

 

Por vezes é fundamental recorrer aos serviços de apoio na violência doméstica para avaliar o risco, as medidas de segurança e avaliar todos os recursos que a comunidade disponibiliza na situação concreta em que a vítima se encontra. Muitas vezes é no momento em que a vítima decide abandonar a situação de vítima que o(a) agressor(a) agride com maior violência, podendo mesmo ser fatal – por isso, a necessidade de recorrer aos serviços especializados neste problema.



QUEBRE O CICLO!