As Consequências da violência doméstica dependem de diversos factores, segundo Emery & Laumann-Billings (1998):
-Do tipo de violência: física, psicológica ou/e sexual, económica, …
Na maior parte das situações, não há apenas um tipo de violência, podendo acontecer todos eles em simultâneo.
Quanto mais abrangente é a violência, mais gravosas são as consequências.
- Da frequência e duração
Quanto mais continuados são os comportamentos violentos e quanto maior for o período da relação com violência, maiores serão os danos.
- Da intensidade / gravidade
Quanto mais traumáticas são as agressões e quanto mais graves são as lesões ou danos provocados, mais profundas serão as suas consequências.
- Das características individuais da vítima:
- Quanto mais frágil é a vítima, maiores poderão ser os danos;
- Quanto mais nova, maior é a probabilidade de afectar o seu desenvolvimento;
- Quanto maior for a dependência - afectiva, social, económica, habitacional - mais repercussões terá no bem-estar da vítima e maior será a dificuldade em se libertar do agressor.
- Do grau de intimidade e de ligação existente
Quanto mais íntima é a relação entre agressor e vítima e quanto maior for a proximidade relacional, mais graves são as consequências do comportamento agressivo (ex. a violência pelo marido é mais traumática do que o mesmo tipo de violência realizada por uma pessoa desconhecida).
- Das respostas dos outros significativos
Quanto mais os familiares, amigos e outros, se distanciam, se silenciam e adoptam atitude tolerante face à violência que sabem existir, quanto mais a culpam pela situação, mais a vítima se isola, se deprime, se abandona à situação de vítima e mais graves serão as consequências
As consequências da violência doméstica podem afectar diversos domínios e sistemas envolvidos.
1 - Como Consequências nas Vítimas, poderão existir:
1.1 - Consequências Físicas
São as mais visíveis. Podem originar fracturas, invalidez, deficiências visuais, auditivas, motoras e até a Morte.
1.2 - Distúrbios Emocionais
São variados e muitas vezes apontadas pelos agressores como a razão para que eles, agressores, se descontrolem e agridam. Afectam:
- Perturbações intelectuais e da memória das vítimas ( e seus filhos): pesadelos, confusão, dificuldades de concentração e de memorização, imagem negativa de si (de incapaz, de fraca, de dependente, de inferior aos outros);
- Perturbações relacionais: Vêm as outras pessoas como potenciais agressores em quem não podem confiar, ou como pessoas superiores que não têm interesse em conhecê-las;
- Sintomatologia depressiva: a depressão, a vergonha, o isolamento (mesmo dos seus familiares e amigos mais próximos), a auto-culpabilização, a desvalorização de si, a falta de confiança e sentimentos de impotência;
- Distúrbios de ansiedade e evitamento como: hipervigilância, medo, fobias e ataques de pânico, perturbações do sono, desordens da alimentação e disfunções sexuais.
1.3 - Consequências Financeiras
- Pobreza/ dificuldades por falta de comparticipação financeira do agressor, por exploração financeira (controle dos bens, destruição de bens).
1.4 - Consequências Profissionais
É frequente uma vítima de violência doméstica ser impedida de trabalhar ou, se trabalha, ser explorada financeiramente pelo agressor.
Tem habitualmente maior dificuldade em integrar-se profissionalmente e em manter o posto de trabalho por:
- Absentismo (pelas lesões sofridas, por falta de apoio na gestão da vida dos filhos);
- Mais baixo vencimento – pelas faltas de assiduidade, pela indisponibilidade e inflexibilidade de horários, pelo menor rendimento e menor ascensão na carreira;
- Despedimento – motivado pelos desacatos feitos pelos agressores no local de trabalho, pelas faltas ao trabalho;
- Abandono da profissão – por imposição do agressor, por fragilidade ou por ausência continuada e dificuldade de integração;
- Necessidade de protecção – perante as perseguições feitas pelo agressor junto ao local de trabalho e nas deslocações entre este e a residência.
2. Consequências nos Filhos:
- Aprendizagem do comportamento agressivo - estima-se que filhos de casais violentos têm 2 ou 4 vezes mais probabilidades de apresentarem problemas comportamentais (Grych et al, 2000);
- Possibilidade de futuras dificuldades de adequação de comportamento nas relações de intimidade;
- Maior dificuldade de integração social;
- Sentimentos ambivalentes para com os pais;
- Maior probabilidade de desenvolver doença psíquica;
- Sofrimento emocional.
3. Consequências no Agressor:
- Agravamento do comportamento – quanto mais se mantém este comportamento sem intervenção, mais ele se agrava;
- Aumento da Perturbação - o comportamento violento vai agravando ao longo do tempo, se não houver intervenção psicoterapéutica;
- Degradação Pessoal;
- Maior perturbação Relacional.
4. Consequências na Família:
- Desagregação Familiar;
- Carências diversas (económicas, saúde, inserção social);
- Perturbação da comunicação, desagregação familiar, reprodução de modelos de funcionamento.
5. Na Sociedade:
- Custos sociais;
- Custos económicos:
- Custos políticos.
Alguns números:
Pelo menos 80 milhões de mulheres dos países da comunidade europeia já sofreram de violência doméstica.
O fenómeno tem custos efectivos na ordem dos 34 biliões de euros por ano equivalentes a 555 euros per capita. (Mendes Bota in LUSA, 5-7-2007)
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